PREDESTINAÇÃO
Três úteis princípios
hermenêuticos ou interpretativos nos ajudarão a compreender o problema da
predestinação:
1º) É a regra áurea da
interpretação, chamada por Orígenes de "Analogia da Fé". O texto deve
ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de
passagens isoladas. Não podemos basear uma doutrina numa só passagem.
2º) Para compreender bem
uma passagem é precisa consultar as passagens paralelas. São aquelas que tratam
do mesmo assunto.
3º) Observar bem o
contexto. Ver o que vem antes e depois para saber de que autor está tratando.
Ilustremos com exemplos
bíblicos estes princípios, visando elucidar o assunto que estamos apresentando:
1º) Prov. 16:4 – "O
Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia
da calamidade.”.
Ecles. 7:29 – "Deus
fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”.
Deus de modo algum é o
originador do mal, mas os que se tornam malvados por sua livre vontade, Deus os
destruirá.
2º) O segundo princípio
pode ser ilustrado com Rom. 9:18 que declara: "Logo, tem ele misericórdia
de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz.”.
Colocando ao lado as
passagens paralelas de Sal.18:25 e 26 e Isa. 55:7 sabemos com quem Deus quer
ser misericordioso e com quem age com dureza. Estas passagens nos afiançam que
com os benignos Ele é benigno, mas destruirá os perversos e impenitentes.
Êxodo 4:21 e 7:3 afirmam
que Deus endureceu o coração de Faraó. Estas passagens são citadas pelos
defensores da predestinação. Temos aqui um idiomatismo hebraico, ou seja, o
verbo usado não para expressar a execução de algo, mas a permissão para fazer
isso. Confira Êxo. 5:22 – "Ó Senhor, por que afligiste a este povo?"
(isto é, toleraste que fosse afligido).
Ademais as passagens
paralelas de Êxodo 7:13, 22 e 8:32 nos mostram que foi Faraó que endureceu o
seu próprio coração.
3º) O contexto das
passagens de Romanos e Efésios que falam da predestinação é claro em nos
mostrar que todos fomos predestinados para a salvação. Paulo nos diz que Deus
através de Cristo nos predestinou para que fôssemos seus filhos por adoção.
Os gentios ficaram
admirados por serem atingidos pelo evangelho. Eles perguntavam: Por que só
agora lhes fora revelado este privilégio? Paulo lhes diz claramente que eles já
tinham sido destinados ou predestinados para serem participantes do evangelho.
Deus tem um propósito
para este mundo e para cada pessoa individualmente. Este propósito é que todos
cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem. "Deus não deseja que
alguém se perca" II Ped. 3: 9.
Alguns afirmam: estava
predestinado que Judas trairia a Cristo, por isso ele não era livre para
escolher.
A Bíblia não diz que
estava predestinado que Judas o trairia. Embora a morte de Cristo fosse
pré-ordenada, Pilatos e Judas não precisariam ter sido instrumentos dessa
morte, eles eram livres para aceitá-lo ou colaborarem na sua condenação,
O Espírito de Profecia
declara:
"O Salvador lia o
coração de Judas; sabia as profundezas de iniquidade a que, se o não livrasse a
graça de Deus, havia ele de imergir... Abrisse ele o coração a Cristo, e a
graça divina baniria o demônio do egoísmo, e mesmo Judas se poderia tornar um
súdito do reino de Deus." – O Desejado de Todas as Nações, pág, 294.
Outra passagem muito
citada pelos calvinistas para a dupla predestinação é Rom. 9:13 – "Amei a
Jacó, porém me aborreci de Esaú." Afirmam: Antes do nascimento, um é
predestinado para a Salvação e outro para a condenação. Esta é uma conclusão
simplista.
Devemos atentar para estes dois pontos (para consciência argumentativa)
1º) Esta citação de Paulo
foi tirada de Malaquias 1: 2-3, escrita mais ou menos 1.000 anos depois que
eles viveram, portanto não é uma profecia, mas sim fato histórico.
2º) Malaquias não está
falando de Esaú e Jacó como duas pessoas, mas de dois povos distintos:
israelitas e edomitas. Jacó está representando o povo do concerto e Esaú os
incrédulos e inimigos de Deus. O aborrecimento de Deus por Esaú – ou melhor,
pelos seus descendentes – foi após um milênio de paciência.
Paulo declara que Jacó
foi escolhido para uma função, para representar um papel de destaque na história
do povo de Deus. Rom. 9:11-12.
Os versos 34 e 41 de Mat.
25 contradizem frontalmente a dupla predestinação de Calvino.
Verso 34 – "Então
dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo."
Isto sugere predestinação para a Salvação.
Verso 41 -”. Apartai-vos
de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos." Se houvesse a dupla predestinação a afirmativa de Cristo seria –
preparado para vós desde a fundação do mundo. O fogo foi preparado para o diabo
e seus anjos, não para o homem.
Outra declaração importante
de Paulo, que precisa ser bem compreendida é a de Rom. 9:22 e 23.
O verso 22 fala dos vasos
de ira preparados para a perdição, mas que Deus os suportou com muita
longanimidade.
No verso 23 há o relato
dos vasos da glória preparados previamente, O comentário do Púlpito em inglês
chama-nos a atenção para uma palavra muito importante ao interpretar estes
versos, isto é, previamente.
A Bíblia nos prova de
maneira inequívoca que os vasos da ira não foram feitos por Deus para a
destruição. Basta ler as passagens paralelas de Romanos 2:4 e 5 onde Paulo nos
fala que Deus trabalha para a Salvação do homem, mas o próprio homem endurece o
seu coração para o dia da ira.
Em Adão todos são predestinados
para a perdição. I Cor. 15:22.
Em Cristo todos são
predestinados para a salvação. S. João 1:12.
PREDESTINAÇÃO E ETERNIDADE.
“Bendito o Deus e Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e
em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua
graça, que nele concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.3-6).
“Porquanto, aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29,30).
A predestinação, segundo
as Escrituras e conforme nossos símbolos de fé, fez parte do plano da criação
que, ao ser executado, o foi nos termos do decreto eterno. Em decorrência
disso, não se pode falar de preordenação temporal, isto é, em um “momento”, num
“ponto da eternidade, em que Deus “pensou” e “regulamentou” seu pensamento em
“projeto” criacional. A expressão, “desde a eternidade,” significa:
“eternamente”, pois estava na mente imutável do Deus eterno. Eis o que declara
a Confissão de Fé de Westminster: Desde a eternidade, Deus, pelo mui sábio e
santo conselho de sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo
quanto acontece “(CFW, cap. III, item 1).
Somos nominados
“escolhidos”, mas este termo deve ser entendido à luz do decreto, projeto ou
planejamento eterno do Criador de sua imensurável, complexa e humanamente
indecifrável obra da criação. O onipotente e onisciente Deus trino, quando nada
existia além e fora de si mesmo, isto é, sua mente, onde tudo que existe hoje e
que virá existir no futuro encontra-se tão eternamente quanto a infinita
existência do supremo Criador.
Não podemos marcar um
“ponto” na eternidade onde Deus teria “começado” a “pensar,” a “planejar” e a
“executar” o projeto de um gigantesco e imensurável universo físico. Também não
podemos, por falta de precisa informação revelada, detectar o momento exato em
que Deus “inicia” a execução de sua inimaginável “planta geral” do cosmo e de
seu inextricável projeto das ordens físicas, biofísica, vegetal e animal e,
dentro destas, o homem, ser que transcende os limites da materialidade e da
temporalidade em virtude de sua espiritualidade e consequente dimensão eterna,
na qualidade e condição de imagem de Deus (Gen. 1.26,27). Como eterno e
imutável é o Criador, igualmente eterno e imutável é o seu decreto da criação.
Deus não teve começo e
também não “começou”, em um momento qualquer, “perdido” nos infindos tempos, o
“plano” das coisas que vieram a existir por atos criadores; isto por que Deus,
em decorrência de sua imutabilidade atributiva, não evolui. A idade do Eterno
não pode ser cronometrada. Portanto, o decreto da criação geral não se
circunscreve a um determinado “kairós” ao longo dos tempos precedentes ao
surgimento do universo espiritual, do físico e do biofísico. O leitor poderá, a
esta altura, questionar: -Isto é irracional, nem sequer imaginável logicamente.
–Não, o Deus eterno e a eternidade1 de Deus não são irracionais, mas
incogitáveis e incognoscíveis e, consequentemente, inextricáveis.
O Rei universal é
absoluto e eterno em seu ser e, portanto, imutável em seus decretos e
ordenanças. A criatura finita e mortal, depravada pelo pecado incluso em sua
essência e natureza, por criação e por queda extremamente limitada, está
contingentemente inabilitada para entender-se a si mesma, compreender a
misteriosa obra da criação e apreender completa e perfeitamente a divindade por
via racional. Temos que nos colocar em nosso lugar de criaturas para aceitarmos
o fato de que nosso Deus é incognoscível e, por isto mesmo, racionalmente
inacessível ao homem finito: Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!
Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: por que me fizeste assim (Rm
9.20)?”.
Afirmações Bíblicas sobre a Predestinação
1 - A raça humana inteira está perdida no
pecado e cada indivíduo está totalmente corrompido no intelecto, vontade e emoções
pelo pecado. O ser humano é incapaz de responder à oferta divina de salvação
porque está espiritualmente morto. Portanto, ninguém pode crer aparte da graça
soberana e eficaz de Deus.
João 6:44; 8:47
Romanos 3:9-18; 8:7-8
1 Coríntios 2:14
Efésios 2:1-3
João 3:19-20
2 - Deus pode trazer à fé
quem quer que Ele deseje; a incredulidade não mantém Deus como refém nem
destrona Sua soberana escolha de salvar uma pessoa. Sua graça salvadora é
sempre eficaz quando Ele deseja que ela seja, todavia, ela não força alguém a
vir para Cristo, mas faz com que ele venha voluntariamente.
Salmos 115:3
Isaías 55:11; 46:10
Romanos 8:30
Jó 42:2
João 5:21; 6:37-40, 44, 55, 64- 65; 18:37
Daniel 4:35
3 - A salvação depende
somente da vontade soberana de Deus, não do homem. Deus soberanamente escolhe
quem salvar, aparte de qualquer condição encontrada no homem. Isto é chamado
“eleição incondicional”. A eleição é uma expressão da vontade soberana de Deus
e é a causa imediata da fé. A eleição é certamente eficaz para a salvação de
todos os eleitos. Aqueles que Deus escolhe certamente chegarão à fé em Cristo.
A eleição abrange toda a eternidade e é um decreto imutável.
Efésios 1:4-11 (observe especialmente os
versos 5 e 11); 2:4; 10
Atos 13:48
João 1:13; 3:37; 8:47; 10:26; 15:16, 19; 17:2,
6, 9, 24
Romanos 8:28-30; 9:1-24
Romanos 9:15, 16; 11:4-8
Joel 2:32 (compare com Romanos 10:13)
1 Tessalonicenses 1:4
2 Tessalonicenses 2:13-14
2 Timóteo 1:9
Tito 1:1
Apocalipse 13:8; 17:8; 20:15
1 Coríntios 1:25-31
Tiago 2:5
Mateus 11:27-30
4 - Deus é soberano em
tudo o que faz e todas as coisas de acordo com sua vontade e prazer. Ele não
tem de prestar contas ao ser humano, porque ele é o Criador e pode escolher a
quem quer salvar.
João 6: 65
Tiago 1:18
1 Pedro 1:23
Atos 11:18; 16:14
Deuteronômio 30:6
Jeremias 32:39-40
Ezequiel 36:26-27
Romanos 9:20-21
CONCLUSÃO
A grande dificuldade que eu vejo com o
entendimento da doutrina da predestinação está no intelecto humano. Não
compreendemos a relação entre a justiça e a graça divina. De acordo com a
Bíblia, a salvação não se fundamenta, de maneira alguma, no rígido princípio da
justiça; pelo contrário, fundamenta- se no fato de ser ela o livramento da
justiça. Se Deus tivesse resolvido exercer justiça para com os filhos caídos de
Adão, nenhum deles pode- ria salvar-se. A justiça não é, em sentido algum, um
fator determinante na salvação de nenhum homem. Se, portanto, Deus escolhe
salvar alguns e não outros, conforme o provam os acontecimentos de cada dia,
Ele ainda pode ser justo, como o seria, se não houvesse escolhido a ninguém da
raça pecadora para a salvação.